O estudo da interação de íons moleculares com a matéria tem sido alvo de
diversos trabalhos, tanto teóricos quanto experimentais, ao longo das
últimas décadas. Comparativamente ao que ocorre com íons monoatômicos,
os fenômenos envolvendo íons moleculares são mais complexos e não tão
bem compreendidos. No estudo da perda de energia, observam-se efeitos
moleculares que não ocorrem com íons monoatômicos. Além da força de
freamento, a perturbação que cada constituinte da molécula incidente
provoca nos elétrons do meio durante seu deslocamento afeta os demais
componentes da molécula original, fazendo com que estes experimentem uma
força extra. Este fenômeno é conhecido como efeito de interferência ou
vizinhança, e sua magnitude é considerável apenas nos instantes iniciais
da molécula dentro do alvo, enquanto os constituintes ainda estiverem
correlacionados. A influência deste efeito sobre os íons incidentes pode
ser verificada através da interação de íons moleculares com camadas
muito finas de um determinado alvo. Outro fenômeno observado na
interação de íons moleculares com a matéria é a chamada explosão
coulombiana, decorrente da força de repulsão que causa o progressivo
afastamento entre si dos constituintes da molécula após a perda de seus
elétrons nas primeiras camadas do material. Com base nestas
considerações, este trabalho se propõe a avaliar a perda de energia
eletrônica de feixes de H2+ e H3+ relativamente a feixes monoatômicos
(H+), incidentes sobre filmes ultrafinos de SiO2 (10-25 Å), crescidos
sobre um substrato de Si cristalino. Para tanto, utilizamos a técnica
MEIS (Medium Energy Ion Scattering) que permite a obtenção de espectros
de energia/profundidade destas camadas ultrafinas com alta resolução.
Com o auxílio de um software desenvolvido para a análise de espectros
provenientes de experimentos com a técnica MEIS, determinamos os fatores
de perda de energia eletrônica de íons H2+ e H3+ com relação a íons H+,
juntamente com uma análise do straggling de energia para estes
diferentes íons. Os experimentos foram realizados como função das
energias das partículas incidentes, cobrindo uma faixa de energias entre
40 e 150 keV/uma para íons H3+ e entre 40 e 200 keV/uma para íons H2+.
Os resultados mostram que a razão entre a perda de energia da molécula e
a soma da perda de energia de seus constituintes é cerca de 0.85 para
ambos H2+ e H3+ em energias abaixo de 80 keV/uma. Para as energias mais
altas (acima de 120 keV/uma), esta razão atinge aproximadamente 1.2 e
1.5 para H2+ e H3+ respectivamente. A região de transição ocorre entre
80 e 100 keV/uma, onde uma abrupta variação das razões das perdas de
energia é observada. Uma interpretação desses resultados em termos do
formalismo dielétrico mostrou-se adequada somente para energias acima de
100 keV/uma. Para mais baixas energias, efeitos não-lineares estão
presentes e o formalismo dielétrico tende a superestimar os resultados
experimentais. Além disso, tais cálculos mostraram a importância da
inclusão de excitações de plasmon na região acima de 100 keV/uma.
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