Nesse trabalho foram estudados os efeitos da irradiação iônica em filmes
de carbono amorfo hidrogenado, sem (a-C:H) e com a presença de N e F
(a-C:N:H e a-C:F:H, respectivamente). Os filmes foram crescidos através
da técnica de Deposição Química na Fase Vapor Assistida por Plasma. Após
a deposição, os filmes foram irradiados com N+ a 400 keV e Xe++ a 800
keV. Esses íons e suas energias foram escolhidos de modo que nas
irradiações com N+ e Xe++ predomine o poder de predomine o poder de
freamento eletrônico e nuclear, respectivamente. Alterações nas
propriedades estruturais, ópticas e mecânicas foram investigadas através
das técnicas de perfilometria, espectroscopia Raman, espectroscopia na
região do infravermelho próximo, visível e ultravioleta, nanoindentação e
técnicas de análise por feixe de íons (análises por retroespalhamento
de Rutherford e análise por reação nuclear). Os resultados revelam que a
irradiação causa um decréscimo na concentração atômica de H em todas as
amostras, e na concentração de F nas amostras de a-C:F:H. Não foram
verificadas alterações na concentração de N nos filmes de a-C:N:H. Os
espectros Raman e as medidas do gap de Tauc revelam que a irradiação
provoca um decréscimo na concentração de estados sp3, devido à conversão
C-sp3 → C-sp2. Após as máximas fluências de irradiação, independente
do íon precursor, todos os filmes apresentam uma estrutura amorfa
rígida, composta com 95 a 100 % de estados sp2. Geralmente, como prevê o
modelo de “clusters”, fases sp2 são planares e apresentam baixos
valores de dureza. Ao contrário, nossos resultados mostram que após as
maiores fluências de irradiação todos os filme combinam boas
propriedades mecânicas e tensão interna nula. A rigidez da estrutura
resulta do elevado grau de distorção angular nas ligações carbono sp2, o
que permite a formação de anéis não hexagonais, como pentágonos e
heptágonos, possibilitando a formação de sítios curvos, criando uma
estrutura tridimensional. Além disso, com a redução dos estados sp3
obtivemos estruturas não usuais. Filmes de carbono amorfo tipicamente
apresentam elevados valores de dureza e tensão interna compressiva, o
que limita a espessura máxima do filme, prejudica sua adesão sobre
determinados substratos e torna o filme suscetível à falhas mecânicas
por delaminação. Através da irradiação iônica foi possível a formação de
novas fases metaestáveis combinando elevada dureza e tensão interna
nula, ou seja, uma nova classe de materiais com grande potencial
tecnológico.
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