A produção de fumo na região sul do Brasil, mais precisamente no Estado
do Rio Grande do Sul (RS), exerce grande importância na atividade
econômica e social. Na área econômica, o fumo é responsável pela
arrecadação de grandes somas em impostos. No campo social, a atividade
fumageira é grande geradora de empregos diretos e indiretos. Os
agricultores que trabalham nas lavouras de fumo estão em constante
contato com a planta. Consequentemente, estes trabalhadores se expõem
tanto aos compostos orgânicos e inorgânicos presentes nas folhas, como
aos pesticidas naturais e sintéticos relacionados. “Green tobacco
sickness” (GTS) é conhecida como risco ocupacional à saúde de
trabalhadores do campo no plantio de tabaco. Os sintomas têm sido
atribuídos ao envenenamento agudo por nicotina seguido por contato
dermal com as folhas do fumo. Contudo autores salientam que os efeitos
sinérgicos da nicotina e dos pesticidas devem ser examinados. Neste
trabalho utilizou-se Cantareus aspersus com o objetivo de identificar a
ação genotóxica e/ou mutagênica das folhas de Nicotiana tabacum através
da exposição dermal. O caracol terrestre tem sido utilizado nos últimos
anos devido a sua fácil aclimatação e manipulação em laboratório e por
sua sensibilidade e resistência aos testes de genotoxicidade. Nestes
animais foram realizados testes de biomonitoramento de exposição: Ensaio
Cometa e quantificação dos elementos químicos pela técnica PIXE; bem
como, testes de biomonitoramento de efeito: Teste de Micronúcleo e
quantificação do Citocromo P450. Nosso estudo dosou a quantidade de
nicotina na água, exposta à superfície da folha, por cromatografia
líquida de alta eficiência (HPLC) e realizou “screening” fitoquímico de
N. tabacum. Trinta moluscos terrestres foram expostos a diferentes
tratamentos: dez expostos a folhas de tabaco sem pesticida; dez expostos
a folhas de tabaco com pesticida e dez expostos a folhas de Lactuca
sativa L. (grupo controle). Células da hemolinfa foram coletadas após 0,
24, 48 e 72 horas de exposição, o dano ao DNA foi avaliado pelo Ensaio
Cometa em todos os períodos e a freqüência de micronúcleos somente em 72
horas. Resultados significativos foram encontrados nos grupos expostos a
folhas de fumo, através do Ensaio Cometa, no período de 24, 48 e 72
horas de exposição e em 72 horas através doTeste de Micronúcleos, quando
comparados ao grupo controle. Não houve diferença significativa entre
caracóis expostos a folhas de fumo com e sem pesticida, portanto,
podemos afirmar que o pesticida flumetralin não contribuiu com os danos
ao DNA observados. “Screening” fitoquímico revelou presença de
alcalóide, cumarina, traços de saponina e flavonóides. Inibição da
atividade da enzima do Citocromo P450 ocorreu somente no grupo exposto a
folhas de fumo sem pesticida. Doze elementos inorgânicos diferentes
foram quantificados nas folhas de tabaco e nos caracóis expostos a
folhas sem pesticida e, dez nos caracóis expostos a folhas com
pesticida. Por cromatografia foram dosados 0,02% de nicotina por folha.
A presença de alcalóides (nicotina), cumarinas, saponinas, flavonóides e
diferentes metais provavelmente influenciaram o efeito mutagênico e
genotóxico em C. aspersus expostos ao fumo. Estes efeitos possivelmente
tenham sido causados pela complexa mistura presente nas folhas que podem
interagir produzindo efeitos sinérgicos, antagônicos ou influenciando a
absorção de um dado composto. As enzimas do sistema Citocromo P450 em
C. aspersus expostos a folhas de fumo sem veneno podem ter sido inibidas
pela nicotina, pelos flavonóides e pelo cobre. Por fim, nosso estudo
providencia dados biológicos e químicos sobre C. aspersus expostos à
folha de fumo e confirma a sensibilidade do Ensaio Cometa e do Teste de
Micronúcleos na avaliação de misturas complexas, indicando associação
entre nicotina, cumarina e interação flavonóide/metal (principalmente
cobre e ferro) como principais causadores de dano ao DNA em células de
hemolinfa do molusco terrestre C. aspersus por folhas de N. tabacum.
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